Cada um vive o luto de sua maneira. Lá em casa mesmo somos muito diferentes: enquanto eu tenho a necessidade de falar do Rafael a todo momento, ver suas fotos, ficar no seu quarto, o Daniel já prefere pensar em outras coisas. Ninguém está errado, acredito que cada um tem que viver sua dor da sua maneira. Acontece que as pessoas de fora muitas vezes não conseguem lidar com o luto. Digo isso porque eu estou em contato constante com mães que perderam os seus bebês e escuto várias histórias. Uma delas me chocou e, quando eu contar, acredito que muitos acharão super normal.
Uma mãe me disse que, quando chegou em casa, seus familiares já haviam desmontado o quarto do bebê. O fizeram com a intenção de amenizar sua dor imaginando que quando a mãe visse o quarto do filho iria desmoronar. Me chocou porque se fosse comigo isso me faria desmoronar. Eu amo entrar no quarto do Rafael, sentar na poltrona e abraçar um macacão azul que comprei para ele (a primeira roupinha que comprei). Esse meu momento é muito importante para mim e não gostaria de ser privada dele.
A pergunta que todos fazem é: você já desfez o quartinho dele? Não! Não desfiz e nem vou desfazer.. Eu não vou desfazer porque pretendo ter outros filhos, mas sabe, ainda que assim não fosse acho que não deveria existir essa pressão para desfazer o quarto. O quarto não é sofrimento, é saudade.. É uma lembrança.. Eu mesma não tenho lembranças do Rafael no quarto, mas me lembro o quanto eu preparei com amor para quando ele chegasse. Acredito que quando os pais estiverem prontos, juntos, irão tomar a decisão de retirar as coisas dali. Uns podem querer tirar no dia seguinte, outros depois de anos. O importante é permitir que essa decisão seja dos pais e respeitar o momento deles.
Muitas mães também vem conversar comigo, me contar suas história e no final me agradece por tê-las ouvido. Uma dificuldade que eu tinha antes era de me aproximar de pessoas que passavam por momentos difíceis, pois não sabia o que dizer. Hoje sei que, na verdade, nada do que for dito vai amenizar a dor. Muitas vezes a pessoa só quer se sentir acolhida. Afastar é ruim pois a pessoa se sente sozinha! Uma amiga minha que perdeu o bebê antes de mim me disse que ela só queria poder falar, só queria alguém para ouvir..
Já ouvi críticas de pessoas que dizem que a mãe posta sempre fotos da filha, mesmo depois de anos. Eu vou ser uma dessas. Nunca vou esquecer meu anjo, nunca! E tem quem diga que a dor um dia se transformará em saudades.. Tenho lá minhas dúvidas. A dor e o vazio pela falta do Rafael sempre existirão, acredito que aprendemos a conviver com esses sentimentos mas eles jamais deixarão de existir.