Segunda-feira cheguei ao hospital e fiquei angustiada. O quadro do Rafael estava completamente diferente do que eu havia deixado no domingo. O coração dele estava batendo fraquinho, fraquinho. Tinham vários remédios sendo administrados via venosa, remédios que são usados para tentar reverter uma parada cardiorespiratória, mas nada estava fazendo o coração do meu príncipe melhorar. Foram feitos vários exames e não foi identificado nenhum problema primário no coração,ou seja, o coração não tinha nada. Normalmente os batimentos cardíacos dele ficavam entre 130/150 e estava 77/80. A saturação estava boa, 91/92. A cardiologista disse que provavelmente a diálise peritoneal não estava funcionando. Então chamamos o Dr. Marcelo. Enquanto estava esperando, fiquei ao seu lado e, embora toda a sua fraqueza, ele abriu os olhos e apertou a minha mão, me dando forças e espantando meu medo. Ele estava lá, forte ainda, mesmo com tudo tão fraquinho. Passou o dia, os batimentos passaram a ficar entre 60/65.. A saturação baixou para 75/80. O Dr. Marcelo trouxe a máquina milagrosa de volta, a de hemodiafiltração. O problema é que iniciar o tratamento não seria ideal já que o coração estava fraco e poderia parar durante a terapia. Decidimos tentar assim mesmo, porém, o cateter que havia sido colocado na femoral da outra vez não estava bom. Teríamos que fazer nova cirurgia e colocar um novo cateter. Uma cirurgia naquele momento mataria o Rafael. Então, não foi feito. O Dr. Marcelo disse que, na opinião dele, a diálise peritoneal estava sim fazendo efeito. Mas de toda forma, iriamos aguardar e se o coração melhorasse um pouquinho, faríamos a cirurgia para voltar a fazer hemodiafiltração. Como houve uma piora de repente, poderíamos ter uma melhora repentina também.
Falei com ele: "filho, te amo, vai dar tudo certo, nós vamos conseguir te salvar de novo". Mais uma vez ele abriu os olhos, dessa vez foi um olhar sereno mas cansado. Nessa hora, ele fechou os olhos, os batimentos ficaram entre 55/60 e a saturação entre 39/50.. Chorei, doeu, mas entendi o recado daquele olhar. Ele quis dizer que ele tentou, lutou mas que havia chegado a hora, que dessa vez não iríamos conseguir. Foi um olhar de despedida! Só de lembrar desse momento meu coração se despedaça. Ele sabia e quis me contar. Nos comunicamos por olhar em todo esse tempo, nos demos força, nos amamos e nos despedimos. A partir dessa hora comecei a velar meu filho, velar um filho vivo mas que estava cada vez mais se aproximando da morte. E eu e meu marido ali, sem ter o que fazer, apenas segurando a mão dele, dizendo o quanto nos orgulhávamos e o quanto ele era amado. Prometi a ele que ele podia ir tranquilo que eu seria forte, que ele já tinha me dado força suficiente para seguir em frente.
Decidimos ir embora, ás 01:30 da madrugada. A dor era intensa e o desespero avassalador. Tinha certeza do fim. Tirei meu celular do silencioso pois sabia que a qualquer momento poderia receber um telefonema do hospital. E recebi. As 7:50 da manhã, de 07/04/2015, recebi a ligação que tanto me apavorava durante esses 4 meses, tinha que ir ao hospital para conversar com a médica. Choramos!
No hospital já tinham arrumado ele, tiraram todos os tubos e fios, colocaram um macacão branquinho e o deixaram no bercinho, coberto com uma manta branca. Parecia que estava dormindo, sereno. Ainda estava quentinho. Pudemos carregá-lo! Coloquei sua cabeça no meu ombro, seu corpo de encontro ao meu e o abracei forte! Nessa hora meu coração acalmou, mais uma vez ele me deu forças e me trouxe a paz. Dessa vez não com o olhar e com o aperto de mão, mas com seu espirito.
Enfim acabou! Meu príncipe virou um anjo. Não sofre mais, eu sofro, mas sempre quis transferir o sofrimento dele para mim e Deus o fez. Como eu queria o Rafa aqui, daria minha vida por ele, moraria em um hospital, não teria problema para mim. Mas não posso ser egoísta! A vida dele não seria fácil, então Deus o levou para ficar do Seu lado, impediu que seu sofrimento se prolongasse.
Valeu a pena! Foi doído, sofrido, quantas lágrimas, medos, anseios.. Ao mesmo tempo foi lindo, com sorrisos, alegrias e um sonho realizado. Fui mãe, sou mãe! Sempre quis ser e acho que vivi tão intensamente minha maternidade que me sinto realizada. Deus maravilhoso me deu um filho perfeito para me ensinar um amor que jamais imaginei que sentiria. Sei que vivi todos os momentos ao lado do Rafael, fiz o que pude, tentei, orei, implorei, mas a vontade de Deus é sábia e nem sempre é como a nossa.
Já estou morrendo de saudades de enchê-lo de beijos, de segurar sua mão, de ficar ao seu lado. Meu filho amado! Um dia vamos nos reencontrar, enquanto isso, sei que estará cuidando de nós e intercedendo junto ao Pai por nós. Obrigada por tudo, por me ensinar a não me preocupar com as coisas banais e a dar valor a pequenas coisas como um olhar e um aperto de mão.
Agradeço a todos pelas mensagens, telefonemas, pela presença no velório, pelos abraços, pela força, pela torcida e pelas orações. Nossa caminhada não seria a mesma se não tivéssemos esses gestos com a gente.