Estava lendo um pouco das histórias de mães que perderam os filhos para a doença renal policística autossômica recessiva. Todas compartilham do mesmo sonho, ser mãe, e do mesmo medo, perder outra vez. É difícil pensar em futura gravidez porque tudo o que passamos vem a tona. Sempre que começo a pensar passa um filme na minha cabeça. E nesse filme só vem as coisas ruins, as dores, as angustias, a morte, o velório e a saudade...
O medo dos 25% me assombra todos os dias. Me disseram uma vez que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, mas conheço uma mãe que perdeu dois filhos, ambos portadores da doença policística. Não há certezas, é como uma roleta russa, você gira o tambor do revólver e atira, há uma bala e três espaços vazios, em qual vai cair? Só tentando para ver!
E será que você vai ter coragem de tentar? E se cair na bala e o tiro vier seguido de morte? Quem tenta deve estar preparado para os riscos, mas será que tem como se preparar? Uma mãe consegue se preparar para a morte de um filho? Eu digo que não! Durante os quatro meses que o Rafael esteve aqui, vários médicos me disseram que o estado dele era grave, um chegou a me sugerir consultas com uma psicóloga para estar preparada para o que fosse acontecer, mas me recusei. É porque por mais que sabemos dos riscos, nós acreditamos que tudo dará certo, essa crença chama-se FÉ!
Aqueles que decidem tentar passarão a gravidez inteira procurando por uma doença no futuro filho. Penso que não tem como ficar tranquilo porque em toda ultrasson vão procurar doenças, ao invés de apenas verificar se está tudo certo. E a angústia no coração vai existir sempre, até o nascimento.
Quando converso disso com alguém mandam eu ter fé e colocar nas mãos de Deus. Mas, eu tenho fé! Não considero minha fé menor pelo fato de ter medo. Acredito que o medo é normal depois de tudo o que vivi (e vivo). Tenho certeza que Deus tem planos para minha vida.. E que Deus é maravilhoso!
E ai eu vivo nessa dicotomia de sonho e medo. Pensando, rezando e torcendo para um final feliz!